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18 de enero de 2011
Brasil: 30 Años de Comisiones de Fabrica
Articulo de Sergio Bertoni de TIE Brasil
La importancia de la Comisiones de Fabrica en la historia social y política brasilera durante las últimas decadas

Comissões de Fábrica dos Trabalhadores: 30 anos de lutas e conquistas

O chamado complexo de "viralatas", definição dada pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues a um sentimento nacional que despreza tudo que é brasileiro e vangloria o que é estrangeiro, muitas vezes não nos deixa ver o quão capaz e criativo nosso povo é.

Por Sérgio Bertoni (*)

Na segunda metade da década de 1920, Henry Ford, então todo poderoso dono da montadora de automóveis que leva seu sobrenome, foi convencido por uns espertinhos brasileiros a adquirir uma enorme área no interior do Pará e ali iniciar uma plantação de seringueiras. E, junto com ela, toda uma nova "civlização".

A transnacional norteamericana despertou o amor e o ódio de muitas pessoas no Brasil e no mundo por esta iniciativa. Os entusiastas e a propaganda oficial mostravam os aspectos civilizatórios da empreitada, enquanto os críticos falavam em destruição da floresta e brutal exploração dos humanos. Ambos tinham lá suas razões para afirmar o que afirmavam.

Na matriz em Detroit

Nessa época, lá nos Estados Unidos, Trabalhava para o Sr. Ford um sujeito de nome Harry Bennett. Conhecido por seus métodos bastantes peculiares de tratar a questão sindical e trabalhista, Bennett chefiava um departamento lotado de 3000 bate-paus e jagunços que cuidavam da "disciplina" interna nas fábricas de Ford na base da violência física, além de manter toda uma rede de espionagem espalhada pelas cidades onde Ford tinha fábricas. A rede de espiões mantinha os operários sob vigilância dentro e fora das fábricas fazendo com que os sindicatos ficassem bem longe das linhas de montagem. À menor suspeita de insatisfação ou de contato de um Trabalhador com os sindicalistas, o mesmo era sumariamente demitido, quando não levava uma surra.

Os métodos pouco civilizados de Bennett fizeram com que ele ganhasse a admiração de Henry Ford e muito poder dentro da empresa, chegando a ser o segundo homem mais importante na Ford. Henry Ford odiava os sindicatos por achar que eram financiados por judeus e não pelos Trabalhadores e cujo "objetivo era eliminar a concorrência para reduzir a renda dos trabalhadores e finalmente provocar a guerra.""As pessoas só podem ser manipuladas quando estão organizadas", dizia Ford.

O antisemitismo antisindical de Henry Ford, aliado aos métodos de Bennett, fez com que a Ford fosse a última automobilística norte-americana a admitir o direito de livre associação de seus Trabalhadores e a última a negociar com o sindicato United Auto Workers - UAW.

Fundado em 1935, o UAW com o passar do anos conseguiu filiar ao sindicato Trabalhadores nas diversas unidades da Ford, mas somente em 1941 conseguiria organizar a primeira greve que começou na fábrica de River rouge e se espalhou pelas demais unidades forçando Ford, finalmente, a aceitar negociar com os sindicatos norteamericanos.

No meio da selva amazônica

A situação era bastante diferente abaixo da linha do Equador, onde no meio da Selva Amazônica, Ford tentava implantar a "nova civilização" conhecida por Fordlândia.

Nos dois primeiros anos da Fordlândia, 1928-1929, greves, levantes e lutas usando as rudimentares armas à disposição dos trabalhadores eram constantes.

Em 22 de dezembro de 1930, depois de um ano de relativa calmaria trabalhista, estourou uma grande rebelião no recém inaugurado refeitório da Fordlândia. Um quebra-quebra generalizado e incêndios tomaram conta do empreendimento. Ao final, os trabalhadores destruíram os relógios e cartões de ponto e marcharam pela plantação sob a palavra de ordem "Matem todos os americanos". Dois dias mais tarde o movimento seria brutalmente reprimido por soldados do exército brasileiro, especialmente deslocados de Belém à Fordlândia.

Mas a repressão não impediria os trabalhadores brasileiros na Fordlândia de organizar seu sindicato e sua Organização no Local de Trabalho. Em 1937 fundaram seu sindicato na plantação e fizeram com que a empresa negociasse com eles. Ou seja, 4 anos antes do sindicato norteamericano UAW forçar a Ford a assinar um acordo em Detroit, os Trabalhadores na Fordlândia, no meio da Selva Amazônica, já tinham seu sindicato a defender os Trabalhadores no Local de Trabalho e a negociar com a transnacional norteamericana.

Para termos uma ideia do valor dessa conquista, basta lembrar que os Trabalhadores na Ford no sudeste brasileiro só em 1981 viriam a conquistar sua Organização no Local de Trabalho. Até 1981 o sindicalismo brasileiro atuava fora das fábricas. A partir de 1981 passou a atuar no coração dos centros de produção de riqueza, ou seja, dentro da fábricas propriamente ditas. Mas a companheirada da amazônia já havia conseguido algo parecido em 1937, 44 anos antes!!!

OLT, Novo Sindicalismo, Governo Lula

A conquista das Comissões de Fábrica dos Trabalhadores significa um novo patamar nas relações capital-trabalho e da produção e distribuição de riquezas no Brasil. Até 1981, "nunca antes na história deste país", os Trabalhadores haviam conseguido se organizar dentro das fábricas por tanto tempo seguido.

As Comissões de Fábrica dos Trabalhadores, atualmente conhecidas por OLT - Organizações nos Locais de Trabalho - são as mais longas experiências de Organização Livre e Autônoma dos Trabalhadores em seus locais de Trabalho em nosso país. Essas OLTs, que em 2011 completam 30 anos de lutas e conquistas para toda a Classe Trabalhadora brasileira, mudaram significativamente a forma de se fazer sindicalismo em nosso país, no chão de fábrica, na base, com a peãozada, fundamentos do chamado Novo Sindicalismo, que por sua vez foi carro chefe na construção e fundação do Partido dos Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores.

Por ironia do destino, as primeiras Comissões de Fábrica desse novo período histórico das lutas dos Trabalhadores no Brasil viriam a SER CONQUISTADAS exatamente nas fábricas da Ford, no estado de São Paulo, 40 anos depois desta empresa ceder à primeira negociação com o sindicato UAW em seu país de origem.

Em 2011, os Trabalhadores na Ford comemoram 30 anos da Conquista das Comissões de Fábrica dos Trabalhadores nas unidades do Taboão (em São Bernardo do Campo) e do Ipiranga (na capital paulista). Podemos afirmar com seguraça, sem medo de errar, que a eleição de Lula a Presidente da República e um pouco do que foi seu governo se deve ao fato histórico da Conquista das Comissões de Fábrica dos Trabalhadores a partir de 1981, um verdadeiro divisor de águas no sindicalismo brasileiro.

Organização no Local de Trabalho: Quem nunca teve não sabe ou que é! Quem tem, não quer perder de jeito nenhum! E quem não a quer, é pelego, a serviço dos patrões!!!

Viva os que lutam! Nunca mais sós!!

(*) Sérgio Bertoni, é mestre em Filosofia Social pela Universade Estatal de Moscou M.V. Lomonossov, coordenador da Rede de Centros Laborais TIE e blogueiro. Foi membro da Coordenação da Comissão Fábrica dos Trabalhadores na Ford Ipiranga na gestão 1987-1988.

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